Memórias póstumas


Morri a procura da felicidade. Essa tal felicidade que procurava estava em um homem rico, belo, elegante, inteligente e que, acima de tudo, me amasse. Onde encontrar tal homem?  Na festa certa. Por isso eu estava em todas as festas da classe alta de minha cidade. De que maneira uma mulher como eu possuía convites para as festas de um grupo tão seleto de pessoas?  Eu tinha contatos e uma beleza invejável. Os contatos me presenteavam com os convites e eu os presenteava com sexo, muito sexo. Eu adorava, simplesmente adorava tal negócio.

Eu, a finada que a vos escreve, passará agora ao relato da situação que me fez chegar nesse lugar irreconhecível e frio. Talvez seja o purgatório. Mas como saber? Nunca fui religiosa.

Mais uma grande noite, uma grande festa e, talvez, um grande homem. Eu tinha… Eu? Eu quem? Ah, me desculpem caros amigos. Entretida em escrever, acabei esquecendo de me apresentar.  Meu nome é Elizabeth. Em vida era prostituta nas horas vagas, penetra em festas da classe alta nos fins de semana, sonhadora o tempo todo e viciada em sexo, dinheiro e rock’n roll. Tenho cinqüenta e… Nossa! Tanto tempo aqui e acabo de saber que não sei minha idade. Mas enfim, morri com dezenove anos. Como morri? Como vim parar aqui? Fui assassinada no momento de um delicioso orgasmo. Quem me assassinou? Um homem rico, belo, elegante e inteligente pelo qual me apaixonei.

Enfim, voltemos agora a grande noite, a grande festa e ao grande homem, meu assassino. Usando um belo smoking e falando coisas interessantes ele me conquistou, ou melhor, eu me permiti ser conquistada. Abri meu coração ao grande homem e, claro, ao seu dinheiro. Dificultei as coisas no inicio da relação para me passar por boa moça. Pronto, ele estava em minhas mãos, pensava eu. Depois de longas semanas e juras de amor, por parte dele, abri a guarda para intimidades.

O lugar era de beleza indescritível e parecia que estávamos isolados do resto do mundo. Sob as raízes de uma velha figueira tomávamos um delicioso Cabernet Sauvignon. Eu falava dos planos para o futuro, ele apenas ouvia. Olhava dentro de meus olhos como se quisesse tirar prova do velho ditado: “Os olhos são as janelas da alma”.  Parecia querer enxergar a minha essência, buscar em algum lugar de minha alma as raízes de tudo aquilo que eu parecia ser.

O sol começava a se pôr quando ele me surpreendeu com seus beijos ardentes. Rapidamente eu estava despida. Como já estava preparada para o momento eu usava um vestido leve e estava desprovida de roupas intimas. Seus beijos desciam de minha boca para meu pescoço, meus seios e meu abdômen. Encostada na figueira com as pernas abertas eu derramava vinho entre os seios. Ele brincava com meu clitóris, levemente enrijecido, até que o liquido decaísse sobre sua língua. Aquela brincadeira maravilhosa durou o tempo necessário para que se tornasse inesquecível até mesmo na morte.  Logo, ele torna a brincadeira ainda mais excitante ao colocar uma venda em meus olhos. Adorei, simplesmente adorei. Nunca tinha imaginado nossa primeira transa dessa maneira. Beijos, caricias de todo o tipo e sua língua estimulando meu clitóris me fizeram tremer de tanto prazer e implorar para que me penetrasse. Senti algo levemente gélido e rígido como um metal entre minhas coxas. A curiosidade me excitou. Eu queria mais. Ele me deu o que queria. Penetrou o objeto em minha vagina úmida. Fui à loucura, o ponto alto do meu prazer. Junto com o orgasmo veio o som ensurdecedor de um tiro. Dor, muita dor, do colo de meu útero até a cabeça. Vejo a luz. Logo me sinto leve, flutuando, estava no alto, acima da figueira. Meu corpo, imóvel, implorando por vida, deu seu último suspiro. Meu assassino, com a tranqüilidade de um profissional da arte de matar, limpava aquela magnífica Magnum 44.

Até hoje não entendo real motivo daquele maravilhoso homem tirar minha vida. Mas agora, ao fazer essa retrospectiva, me alegro por morrer com tanto estilo e elegância.

2 Respostas to “Memórias póstumas”


  1. 1 jehzanella 13 de Maio de 2009 às 9:50 pm

    Minha atenção ficou toda no texto. Do começo ao fim. Gostei do seu jogo.

  2. 2 Cross Walker 14 de Maio de 2009 às 8:33 am

    Interessante o texto… isso me leva a refletir em quantas pessoas levam vidas tão medíocres assim e achando o máximo ou talvez não… mas não vêem saída… esse deve ser o extasi da liberdade, o entretenimento maior das sociedades… e no fim essas pessoas vivem para que? Justamente por isso vivem assim… por não terem um bom motivo para viver de outra forma… “o dinheiro e o prazer são tudo”… será que isso é melhor do que estar lá na africa passando fome? Claro que o enredo muda… e é horrível passar fome… mas ambos estão no mesmo contexto de uma fome maior… a fome de um bom motivo para viver… se não… contiuam vivendo apenas… por nada… “apenas mais um dia… qualquer hora tudo acaba, então vamos aproveitar”…

    Será que é só isso? Vale a pena viver assim e morrer com elegância? A vida vale apenas umas transas e um bolo de notas verdes que vieram de árvores derrubadas? Será mesmo que a vida perdeu tanto o seu valor? Ou mesmo nunca foi valorizada? Então qual é a saída? ;D pensemos!


Deixe um comentário




Maicon

Estudante do terceiro semestre de Eletrônica Integrado ao Ensino Médio, indeciso, viciado em açaí com guaraná e Paulo Coelho. Filosofa com frequência frases disconexas.

Perfil por Rafaela - http://sushiteria.wordpress.com

Contador

  • 5.623 visitas