Sobre o tempo

Já dizia Cazuza: “O tempo não pára”. Mas a que tempo se referia o poeta? Ao tempo das fórmulas dos exercícios de física lá do ensino médio? O tempo para uma partícula percorrer determinado espaço? Não, o poeta não se referia a esse tempo. Ele se referia ao valioso tempo de nossas vidas, o maior presente do Criador.

Imagine você ao dar um belo presente a um bom amigo, o que desejas que ele faça com o presente? Que faça bom uso, não é verdade? Com esse mesmo propósito o Senhor da Existência nos presenteou com o tempo. Ele nos não pede nada em troca, apenas deseja uma coisa: faças bom uso.  Algumas pessoas recebem mais, outras menos, mas a quantidade não é o que importa. Para nós humanos, “demasiadamente humanos”, o que importa não é a quantidade, mas sim a intensidade. De que adianta cem anos de vida plantando vento para colher tempestade, se autodestruindo e destruindo a felicidade das pessoas que amamos? Um abraço pode durar alguns segundos, um “eu te amo” não passa de três segundos, mas ficam marcados para a vida toda. Momentos alegres com as pessoas que amamos podem durar pouco tempo, mas são esses momentos que tornam a nossa vida intensa e feliz. Faça bom proveito dessa dádiva enquanto há tempo. Faça feliz, seja feliz.

Memórias póstumas

Morri a procura da felicidade. Essa tal felicidade que procurava estava em um homem rico, belo, elegante, inteligente e que, acima de tudo, me amasse. Onde encontrar tal homem?  Na festa certa. Por isso eu estava em todas as festas da classe alta de minha cidade. De que maneira uma mulher como eu possuía convites para as festas de um grupo tão seleto de pessoas?  Eu tinha contatos e uma beleza invejável. Os contatos me presenteavam com os convites e eu os presenteava com sexo, muito sexo. Eu adorava, simplesmente adorava tal negócio.

Eu, a finada que a vos escreve, passará agora ao relato da situação que me fez chegar nesse lugar irreconhecível e frio. Talvez seja o purgatório. Mas como saber? Nunca fui religiosa.

Mais uma grande noite, uma grande festa e, talvez, um grande homem. Eu tinha… Eu? Eu quem? Ah, me desculpem caros amigos. Entretida em escrever, acabei esquecendo de me apresentar.  Meu nome é Elizabeth. Em vida era prostituta nas horas vagas, penetra em festas da classe alta nos fins de semana, sonhadora o tempo todo e viciada em sexo, dinheiro e rock’n roll. Tenho cinqüenta e… Nossa! Tanto tempo aqui e acabo de saber que não sei minha idade. Mas enfim, morri com dezenove anos. Como morri? Como vim parar aqui? Fui assassinada no momento de um delicioso orgasmo. Quem me assassinou? Um homem rico, belo, elegante e inteligente pelo qual me apaixonei.

Enfim, voltemos agora a grande noite, a grande festa e ao grande homem, meu assassino. Usando um belo smoking e falando coisas interessantes ele me conquistou, ou melhor, eu me permiti ser conquistada. Abri meu coração ao grande homem e, claro, ao seu dinheiro. Dificultei as coisas no inicio da relação para me passar por boa moça. Pronto, ele estava em minhas mãos, pensava eu. Depois de longas semanas e juras de amor, por parte dele, abri a guarda para intimidades.

O lugar era de beleza indescritível e parecia que estávamos isolados do resto do mundo. Sob as raízes de uma velha figueira tomávamos um delicioso Cabernet Sauvignon. Eu falava dos planos para o futuro, ele apenas ouvia. Olhava dentro de meus olhos como se quisesse tirar prova do velho ditado: “Os olhos são as janelas da alma”.  Parecia querer enxergar a minha essência, buscar em algum lugar de minha alma as raízes de tudo aquilo que eu parecia ser.

O sol começava a se pôr quando ele me surpreendeu com seus beijos ardentes. Rapidamente eu estava despida. Como já estava preparada para o momento eu usava um vestido leve e estava desprovida de roupas intimas. Seus beijos desciam de minha boca para meu pescoço, meus seios e meu abdômen. Encostada na figueira com as pernas abertas eu derramava vinho entre os seios. Ele brincava com meu clitóris, levemente enrijecido, até que o liquido decaísse sobre sua língua. Aquela brincadeira maravilhosa durou o tempo necessário para que se tornasse inesquecível até mesmo na morte.  Logo, ele torna a brincadeira ainda mais excitante ao colocar uma venda em meus olhos. Adorei, simplesmente adorei. Nunca tinha imaginado nossa primeira transa dessa maneira. Beijos, caricias de todo o tipo e sua língua estimulando meu clitóris me fizeram tremer de tanto prazer e implorar para que me penetrasse. Senti algo levemente gélido e rígido como um metal entre minhas coxas. A curiosidade me excitou. Eu queria mais. Ele me deu o que queria. Penetrou o objeto em minha vagina úmida. Fui à loucura, o ponto alto do meu prazer. Junto com o orgasmo veio o som ensurdecedor de um tiro. Dor, muita dor, do colo de meu útero até a cabeça. Vejo a luz. Logo me sinto leve, flutuando, estava no alto, acima da figueira. Meu corpo, imóvel, implorando por vida, deu seu último suspiro. Meu assassino, com a tranqüilidade de um profissional da arte de matar, limpava aquela magnífica Magnum 44.

Até hoje não entendo real motivo daquele maravilhoso homem tirar minha vida. Mas agora, ao fazer essa retrospectiva, me alegro por morrer com tanto estilo e elegância.

“Coisas da vida…” Você acha?

Pessoas e livros, livros e pessoas

O que é o mundo? Cheguei à conclusão que é uma gigantesca biblioteca. Quem são os livros? Você, eu, sua vovozinha, enfim, todas as pessoas.  E olha que é gigante mesmo essa tal biblioteca. Mais de seis bilhões de livros espalhados pelos cinco continentes. Onde você olhar terá um.

Você agora ai na sua casa, colégio, lan, enfim, olhe para o lado e verás uma pessoa, um livro. Não acreditas?

Toda existência é uma grande aventura (da qual nunca sairemos vivos. Só não conta isso pra ninguém não, senão a história perde a graça).  E por acaso não é o que muitos livros narram? Uma grande aventura?

Todo ser humano é, assim como um livro, indecifrável até que comece contar suas histórias, os capítulos de sua aventura. Há pessoas que parecem uma antologia de contos, todo dia uma nova historinha, que ouvimos e ficamos morrendo de inveja. “Ah como eu queria viver algo tão legal assim para poder contar pros outros depois buááá” – pensamos. Não é verdade?

Olha só que legal aquele amigo que está sempre ao seu lado lhe dando conselhos e lhe falando coisas bonitas (que você nunca entende e muito menos as coloca em pratica). Esse amigo é o livro auto-ajuda (geralmente, no caso das mulheres, esse amigo é gay). Você o encontra e ele vira seu livro de cabeceira, você nunca mais se desfaz dele.

E aquele amigo que parece um livrinho de piadas, sempre querendo te ver sorrindo. E você ri, mesmo que seja para que ele se sinta realizado.

Uma pessoa interessante é aquela que parece uma enciclopédia ambulante. Sempre tem a resposta para tudo. Esse não pode faltar na sua prateleira.

Na realidade todos esse “livros” devem estar presentes na sua prateleira, cada um exercendo uma função para construir sua felicidade e  sua compreensão da existência.

Livros e pessoas, pessoas e livros. A grande criação de Deus e a Grande criação do homem. Pai, filho e neto.

Livros e pessoas, pessoas e livros. Que livro você é?

 

IMPORTANTE

Aos viciados em livros:

 

Por favor, não leiam esse artigo.

 

Ah, pensando bem, podem ler sim.  Só por favor, controlem-se e não repitam essa cena:

 

 

by maicon

Que coisa…

Há quem diga que somos a imagem e semelhança de Deus.

Há quem diga que Deus esconde seus movimentos nas leis da física

 

 

Decargas elétricas, um belo movimento

Decargas elétricas, um belo movimento

Quer conhecer Deus?
Então se descabela estudando fisica, psico, bio…
Buááááá

Buááááá

Depois dessa ninguém mais vai querer conhecer o Bom Velhinho.
A não ser que…
Que coisa...

Que coisa...

…consigamos  unir o útil ao agradável

Pseudo

Ele ira chegar. Com seu Golf vermelho, camisa Lacoste, perfume amadeirado; ouvindo Sweet Child o’ Mine.

Seu grande amor.

Não, ele mão irá chegar.”Acorda garota, é hora de trabalhar” – pensou ela para desviar o as lembranças e não se sentir tão culpada.

Mas alguém tem que chegar.

E chegou.

Em uma Scania vermelha, camisa xadrez, peito cabeludo a mostra; ouvindo Boate Azul.

– Quanto tá uma completinha? – perguntou o camioneiro, filmando-a de cima a baixo, com se avaliasse a “mercadoria”.

— Oitenta pratas.- responde a garota enquanto arruma o decote.

Piercing no umbigo, tatuagem no pescoço, cabelos longos e lisos formando um coque, olhos cor de mel. Perfeita. “Pagaria o dobro se necessário” -pensou o camioneiro.

-Sobe ai, vamo dá uma volta. – disse o homem de camisa xadrez, já imaginando o que estaria por vir.

O ritual se repetiu durante a noite. Mudaram as cores, as marcas; Scania, Volvo, Mercedes Benz. Outros perfumes, outras frases, outras camisas, outras musicas.

Antes do terceiro cantar do galo a menina dos olhos melados já estava sentindo o prazer de uma ducha fria, logo estaria no conforto de sua cama. A tarde chegaria e junto com ela seu homem, seu escolhido.

A campainha tocou.

Camisa Lacoste, perfume amadeirado e um grande sorriso no rosto.

-Olá meu bem. – Diz o escolhido, fazendo movimento para beijá-la.

O beijo.

– Você parece tão cansada. – Diz ele, demonstrando grande preocupação com a sua menina.

– Ah, não é nada. -responde ela, querendo logo mudar de assunto- Sabe como é, fim de semana. O Pronto Socorro virou um inferno. Muitos acidentes. Malditos beberrões.

Prazer, meu nome é Beto

– Ei Beto chego o bagulho na mão do Cezar.

– Porra velho, isso não era pra chega agora, tamo sem um puto tostão.

-Se era pra chega agora ou não, isso não interessa. O que interessa é que temo que arranja grana pra busca o bagulho antes do cabeleira, se não ele busca e distribui pros parça, daí nós ficamo sem grana e na seca a semana toda.

-Então vamo tê que deita o velho Lorencio e pega a grana da aposentadoria que ele recebeu semana passada.

-Tu é loco? Nós tamo sem um cano, e de mão vazia eu não arrisco.

-O velho ta acamado já faz três dia, fico doente e não consegue mais  sai da cama. È só leva a brancona da tua mãe que nós faz o serviço na hora que a velha dele tive na igreja.

– Tu manda então, na hora da velha reza nós manda o velho encontra  São Pedro.

 O sopro do minuano, a cada inverno, trazia consigo as lembranças dos tempos de juventude do senhor Lorencio. Jovem astuto e bom de tiro, lutando ao lado dos caudilhos maragatos na revolução de 1923, quando conheceu Rosinha, uma enfermeira de campanha,  na investida contra a cidade de Pelotas em 29 de outubro do mesmo ano. A revolução lhe deu duas coisas das quais nunca se separou: Rosinha e a Colt 45, que ganhou do general Zeca Netto em reconhecimento a sua habilidade com armas de fogo. “Para um grande atirador, uma grande arma” disse o velho caudilho ao lhe entregar o presente. Levou Rosinha para casa, na capital dos sete povos, e desde então era Rosinha  na garupa do pintado e a colt 45 na guaiaca, era Rosinha sob as suas fortes  investidas em um sexo selvagem e a colt 45 embaixo do travesseiro, sempre.

A pratica leva a perfeição, verdade. A sutileza e a precisão ao usar uma chave mestra deixavam isso claro. Olharam-se com ar de “essa foi fácil” ou ver que a fechadura se abriu.  O que eles não sabiam é  que entrar na casa de um caudilho, para qualquer um, poderia ser fácil, o difícil é sair dela. O velho mantinha-se ali,sentado  na cama; janela aberta, sentindo o minuano, lua cheia; maravilhosa, dando mais vida as suas lembranças. O garoto empoleirado no pé de laranjeira a observar o velho, ficou com a missão de dar sinal no momento de entrar e de qualquer movimento do velho, Beto continuaria ali, na porta dos fundos,  para recepcionar o sinal e enviar para o colega que faria o serviço; estrategy.  Ao sinal, adentrou  a casa e seguiu em direção ao quarto, o gato murisco de Rosinha lanchava despreocupado os restos de comida nos pratos sobre a pia até o momento que é surpreendido pelo vulto, movendo-se  pela casa com a sutileza de um fantasma, o murisco pulou assustado, deixando como rastro os estilhaços de louça pelo chão. O barulho deixou o velho caudilho atento, sinal de alerta. Astuto, a revolução lhe ensinou esses “detalhes”. Levanta o travesseiro; colt nas mãos. O garoto no pé de laranjeira assovia com destreza, assustado ao ver a arma, pula da árvore e corre. Era tarde, Lorencio não deixaria passar, questão de honra. Depois de seis décadas, recebendo o carinho em cada manutenção preventiva, a colt voltaria à ativa. Com muito esforço, chega até a porta do quarto. O garoto, com a faca na mão, corre como nunca correra antes. Um tiro, sangue e terra se misturam. Beto fica enroscado na grade ao tentar pular para fora do território inimigo, já não tem mais perdão. Um segundo tiro, agora em Beto, na cabeça, certeiro. Beto continua pendurado na grade. O sangue, que não pára de escorrer, vai pagar o seu perdão.  

A senhora Gonzáles chega logo implorando para ver o filho. A enfermeira, com a tatuagem de um anjo segurando um tridente desenhado no pescoço, lhe impede de entrar; é a sala de cirurgia. Em um caso desses é necessário uma cirurgia de emergência. As lágrimas descem em sua face. Pergunta-se em que errou. Sempre fora uma fiel aos preceitos da religião, uma crente fervorosa. Sonhava ver o filho falando de Deus, intitulado pastor. Sempre fizera tudo que estava ao seu alcance para que isso acontecesse. Desde que o marido desapareceu no mundo ela mantinha-se trabalhando em duas casas de família para dar melhores condições para o filho ir à escola, ser educado. Em casa ela falava de Deus e como era perfeito tudo que ele criou, do amor ao próximo, de esperança, da importância das pessoas, do valor da vida, ensinava tudo que sabia sobre a bíblia. Desde pequeno o garoto ia à igreja, tinha a vocação. Ela, todas as noites, orava com muita fé para seu Deus. Em muitas noites passavam minutos, horas, madrugada adentro falando com Ele, com um único propósito: a educação do filho. Temia desde sempre que acontecesse o que estava acontecendo naquele momento. Tentou achar uma explicação para o acontecido, a noite demoraria a passar.

  O coração do seu filho era um solo fértil preparado pelas mãos do criador, onde ela plantava as sementes de árvores que dariam bons frutos. O que ela não havia entendido é que esse solo fértil estava exposto, também, a influência do meio, do vento que trazia sementes que não eram convenientes, das pessoas que semeavam naquele solo sementes que nem elas mesmas sabiam qual era o fruto. A sociedade, aquela que mais  se importa com a logomarca que carrega no tênis que com os seres humanos, age como pássaros defecando  sementes de plantas dos maus frutos que crescem rapidamente sufocando, impedindo o crescimento das boas plantas.

Amanheceu o dia, o garoto já está no quarto da unidade de tratamento intensivo, inconsciente. Gonzáles recebe a noticia: a bala ficou alojada entre o crânio e o lobo central; ira sobreviver, com algumas seqüelas. È convidada a entrar no quarto. Ri e chora ao mesmo tempo, beija o queixo do garoto, a única parte que não estava enrolada com curativos, eufórica, agradece a Deus por mais uma chance para o seu garoto. Passa minutos e ela continua ali, inerte, observando o filho; agradecida. A imagem do filho naquelas condições a fez entender o quanto o ser humano é frágil e dependente de Deus e de outras pessoas.

 

O dia de natal amanheceu cinzento. Para Gonzáles o dia cinzento ou ensolarado não fazia diferença, o que importava era o seu estado de espírito: ensolarado, alegre, eufórico. Seu garoto estaria em casa no final do dia, recuperado.  

-Bom dia dona Gonzáles.  Como está hoje, ansiosa?- Perguntou a enfermeira da tatuagem.

– Você não imagina o quanto. Graças a Deus, meu menino vai pra casa.

Depois de cinco meses entrando e saindo daquele hospital, não havia quem não a conhecesse, não a admirasse.

Ao entrar no quarto havia algo estranho, alguém estranho. Homens de farda, eram dois.  Seu garoto entre eles, cabeça baixa, algemado.

– Sra Gonzáles, seu filho terá que ir conosco. Terá que ficar detido no CDMI, Centro de Detenção de Menores Infratores, até o julgamento.

– Tirem as mãos dele seus infames, vocês não têm o direito. Vocês não entendem minha dor? Não tem filhos, mães? Seus animais.

– Sra, por favor, nos entenda. Não temos o direito, temos um mandato judicial.

Ela se abraçou no filho, em lágrimas, beijou-o e falou baixinho:

 – Vou rezar por você, Deus estará com você. Eu te amo e Ele também.

O pior estaria por vir.

Logo que chegou presenciou uma rebelião. A tropa de choque chegou para conter os adolescentes. Fecharam o cerco em torno do grupo que deu inicio ao movimento. Os garotos pareciam ratos tentando escapar de uma gaiola, sendo espancados; dor. Um garoto, ainda mais jovem que ele, é morto dentro do cerco. É nesse momento que se pergunta o quanto vale a vida. O garoto morto fora retirado do local enrolado em um saco preto, como lixo. Nesse momento sua pergunta foi respondida. Podemos escolher entre ser apenas um saco de ossos, água e proteínas movendo-se pelo mundo em busca do nada, e valendo nada, ou darmos a nós mesmos o devido valor, cumprindo com o nosso dever de seres humanos racionais, buscando encontrar o nosso lugar em meio aos que se importam com o próximo e valorizam a sabedoria.

Os dias passavam lentos, tristes. Beto lembrava da mãe, do amigo morto no assalto. Repensava sua vida. O CDMI o fez mudar para melhor a forma de ver o mundo, o que não acontece com todos. No dia mais triste desde que chegara ao Centro de Detenção, quando fora abusado sexualmente, entendeu o quanto era perfeito o criador e sua obra, deu valor aos opostos, a dualidade na criação, ao homem e a mulher. Nos últimos dias da estadia compreendeu o valor da amizade ao ser protegido de mais um abuso. Já era inverno novamente, aconteceu o julgamento. Liberdade.

A Sra. Gonzáles abraça o filho, ambos choram como crianças. Sentem-se envolvidos por algo além do que compreendem. Tudo será diferente.

Sra. Gonzáles se emociona ao ver o filho ensinado a palavra de seu Deus, as lágrimas descem em sua face mais uma vez.

– Vovó, vovó por que está chorando?

Ela não responde, apenas dá um forte abraço na neta, que acabava de completar quatro anos.

Sofia não entende aquele ato da vovó; talvez um dia.

Ao chegar em casa naquela noite Sra. Gonzáles entende algo importante. “Para que um grande sonho se realize, muitas vezes, é necessário um grande sacrifício”. Beto brinca com Sofia no balanço. Nesse momento sopra o minuano, trazendo consigo as lembranças de um tempo…

E isso também é uma questão de opinião…

 

 

Sleep bag bichinho : ——————————————- R$  96,00

Pink Dog Carrier Handbag———————R$ 120,00

 Sessão  banho e tosa——————————————-R$ 25,00

Capa lã Europa  pickorrucho——————————-R$ 28.99,00

Ração super Premium  Senior Small Bites 7,5 Kg— R$ 106,00

Comedouro Automático Júnior – Bildsam——————R$ 30,50

Vacina anti-rábica e V8————————– R$ 40,00

Total ——————————————-R$  449,50

 

Ver seu bichinho feliz não tem preço

Enquanto isso…

 

 

Arroz 1 kg ——————————————R$ 1.20

Feijão 1kg——————————————-R$ 4,50

Um litro de leite———————————-R$ 1,50

 

 

Considerando os valores descritos acima (primeiro trimestre de 2009, na região metropolitana de Santa Catarina)  é possível comprar, com o dinheiro da felicidade do cãozinho, 62.0  Kg de feijão, 62,0 kg de arroz e 62.0 litros de leite,- (1.20*62.0)+(4.50*62.0)+(1.50*62)=R$ 446,4-. Considerando que quinhentos gramas de feijão, quinhentos gramas de arroz e  meio litro de leite sejam o suficiente para fornecer energia durante  um dia para um indivíduo adulto, conclui-se que R$  446,4  é o suficiente para garantir o  alimento desse individuo por 124 dias e 124 dias é muito tempo. 124 dias  são quatro meses, quatro meses é o mesmo que 1/3 de ano e um terço de ano na vida de um ser humano é sim muito tempo. Você agora deve ter pensado algo do tipo: “ah, o que ele escreveu não é baseado em dados oficiais, em pesquisas de universidades renomadas, então as coisas não devem ser bem assim”. Então te proponho que tire prova disso. Cozinhe meio quilo de feijão e meio de arroz e veja quanto tempo você consegue ficar satisfeito “apenas” com isso. No fim da noite tome o leitinho para dar  um gosto a mais a vida.  Se isso não for o suficiente e você não ter energia  para concluir seus afazeres diários ou sentir aquela fome verdadeira, aquela que quando dá você não consegue se concentrar para fazer nada, você pode encher esse post de comentários com palavras de baixo calão, ou com comentários me corrigindo . Certo?
       Mas não é a  minha opinião, ou os seus comentários sobre ela,  que irá mudar as condições de seres humanos como os da fotografia acima. Esses seres humanos são gente como a gente, sentem tudo o que sentimos e são, em toda a grandeza da expressão, inocentes. Como  pode ser depositado mais valor na vida de um cachorro que na vida de humanos inocentes? Quanto vale essa vida? Uma boa fotografia?! Um bom artigo para um jornal ou para um blog qualquer?! A imagem de uma mãe com o filho morrendo aos poucos em seus braços virou sinônimo de uma boa fotografia, fotografia que irá se trasformar em símbolo de amor e da insignificância humana e que deveria se transformar em símbolo de um passado triste que não voltará a acontecer. Por que motivo ela não se transforma em símbolo desse passado? Isso é culpa da opinião. 
       Se você teve paciência para chegar a esse parágrafo é sinal que, talvez, você não esteja  no grupo daquelas  pessoas que preferem saber o resultado do jogo do Corinthias a ver uma imagem da realidade. Calma! Não queira me bater, não pense que sou arrogante. Eu tenho consciência de que o que estou escrevendo não é essa imagem e sim mais uma das milhares de opiniões que existem por aí a respeito disso e que não  alteram em  nada  vida de ninguém.
        Eu, assim como você , seu pai , seus irmãos, sua professora , o padre , seu cachorro, e a tua vovozinha somos campeões em uma única coisa: dar opiniões que não alteram, para melhor, a vida de ninguém. Você, com certeza, já ouviu aquele velho ditado que cão que late não morde . No caso das pessoas o ditado fica assim: pessoas que  opinam não agem. 
      Assim nós descobrimos por que há poucas pessoas agindo para melhorar a vida desses  seres humanos.  O restante perde tempo dando opiniões sem pé e sem cabeça e estão  com suas ações focadas apenas para três coisas: o pão nosso de  cada dia, a foda nossa de cada noite  e o bem-estar  nosso de toda hora. Ops!!! Esqueci, o padre não entra  nesse grupo.  Aah, pensando bem….

 

VISÃO ALTERNATIVA

                                          CONVICÇÃO

“Sou alguém que acredita que somos todos animais. Como o cão tem a audição e o olfato extremamente apurados e a águia tem a visão como trunfo, o homem tem a capacidade de raciocínio, que é sua virtude, sua arma para sobrevivência[…]. Tenho convicção de que o mundo é dividido entre tolos e sábios e a única dádiva que vem de Deus ao homem é a sabedoria. Tudo o mais é fantasia e enganação, que  somos educados a acreditar para que possamos ser controlados mais facilmente ao interesse de poucos.[…].Tenho certeza de que a coragem é o único diferencial entre fortes e fracos entre medíocres e vencedores. Coragem para transpor a barreira da observação não se importando com o que dizem ou pensam sobre você. Sei que felicidade não existe, é apenas uma idéia. O que existe é o prazer em cada realização. Os covardes buscam fuga na religião e sentem-se realizados em serem explorados e controlados. Cansei de tudo. Ainda acredito nas pessoas e isso me realiza. Só é eterno quem tem filhos e perpetua sua genética. Já sou eterno e isso me realiza.”

                                       Eliseu Machado Preichardt

 

 

Este é o primeiro artigo baseado no que chamo de visão alternativa.

 

 

 Considero visão alternativa qualquer forma de ver a existência humana sem se basear em dogmas de qualquer religião ou em teorias dos representantes da razão. Isso não significa que eu considere essas teorias inverdades mas acredito que foram criadas por pessoas que observavam o mundo de uma maneira, por um ponto de vista. O  fato é que existem bilhões de pessoas no mundo, cada uma com um ponto de vista sobre a existência humana, cada um sendo capaz de observar as coisas por um ângulo, da sua maneira. Cada uma dessas pessoas carrega consigo um  fragmento de uma valorosa  informação, de uma grande  verdade.

 Imagine que uma professora do jardim de infância divida uma imagem em várias partes e a entregue a seus aluninhos ingênuos de forma que eles não vissem a imagem inteira e não fossem capazes de imaginar o restante da imagem por aquele fragmento que lhes foi entregue. E agora, o que é isso? O que é essa imagem? Perguntam-se eles. É quando cada um deles começa dizer o que acha que é aquilo. Alguns dizem com convicção que aquilo é um cavalo outros dizem que é um urso de pelúcia, um leão ou uma girafa e não há como chegar uma conclusão sem que todos os alunos depositem seu fragmento de imagem em um mesmo lugar e comecem a organizá-los.

            Assim está a humanidade,  cada pessoa com seu pedacinho da verdade precisando ser unida com outro e com outro para formar algo valoroso.

 

Sob outros olhos

– Ai malandro, quer trocar?

     Olhei para aquele adolescente negro, sem camisa, vestindo aquele jeans azul, surrado e sujo. Ele segurava uma folha branca, que me entrega e nela leio a seguinte frase:

                           “Meus sonhos, minha luta”

-Não entendo. O que significa isso?

-Esta folha é mágica e através dela podemos trocar de vida, basta que nela você escreva as coisas mais importantes de sua existência.

Cético, usei minha bic azul para escrever duas palavras. Entrego a folha e nada acontece. É preciso acreditar. Mergulho na escuridão daqueles olhos que escondem algo além da minha compreensão ou simplesmente escondem a graça de brincar com mais um desprovido de inteligência.

Derrepente, não vejo mais as janelas daquela alma misteriosa. Agora vejo do alto, o mar, a cidade maravilhosa, o Redentor. Barracos para todos os lados, pipas coloridas e altivas. Ao fundo, de um rádio que parece estar engasgado, ouço Marcelo D2. Impossível; foi o que pensei. Perdido e desesperado, caminho apressado para encontrar algo que não sei exatamente o que é.

Aquela morena, de segunda idade e baixa estatura, respira aliviada ao me ver. Vem em minha direção, faz movimento para pegar minha mão. Não permito, estou assustado, confuso.

– Meu filho, que bom que já está aqui. Andaram te procurando, eles querem o dinheiro. Vamos, entre logo!

Em um instante estou dentro do  barraco. Há um espelho e estou refletido nele. Pele morena, jeans surrado e sujo. Agora entendo. Na base do espelho há um São Jorge, aos pés do dragão um recado:

“Bem vindo ao meu mundo

Um estrondo, a porta ao chão. Homens armados adentram o barraco. Ela me protege com seu corpo. O tambor do Taurus 38 é descarregado.Sinto o calor de seu sangue. Ela cai. Sinto o seu peso sobre mim. Fecho os olhos para fantasiar o paraíso; o inferno me encontrou. Continuo inerte, passa o tempo, cai a noite. O corpo está gelado, tal como meu espírito. Quero fugir, chorar, voltar no tempo. Corro para fora. Já posso ver a cidade e o redentor de braços abertos. Há esperança. Estou determinado. Quero voltar ao meu mundo, a minha Pasárgada, a minha Ítaca.

Ao andar pelas ruelas vejo meninos de AK-47 na mão, fico ainda mais aterrorizado. Em minha pasárgada esses mesmos meninos levariam nas mãos livros de física, história ou violinos, violões, saxofones. Ouço tiros, o caveirão chegou; homens de preto. Em Ítaca homens de preto são protagonistas de MIB protegendo o planeta de invasões alienígenas. Aqui homens de preto são os homens do BOPE colocando faca na caveira. Em Ìtaca meninos estouram foguetes para São João, nas festas juninas, ou para comemorar a vitória do time. Aqui esses meninos são fogueteiros e estourar foguetes é dever, é missão. Vejo meninas expondo seus corpos para venda, como em um armazém humano. Lembro que em minha Pasárgada meninas não se vendem. Em minha pasárgada meninas são conquistadas com flores vermelhas.

Mais tiros, muitos homens de farda.  A M16 do homem de boina está apontada para minha cabeça. Não me importo. Já não consigo discernir vida e morte, uma pessoa e outra, santos ou culpados. Sei apenas de uma coisa; quero voltar ao meu mundo, a minha pasárgada, a minha Ítaca. O som final. A rajada repulsa nossos corpos.

Vejo a luz. Minha mãe entra no quarto para me acordar. Está na hora de ir à aula, estudar, ver os amigos, falar coisas sem sentindo, rir. Viver meu mundo. Ao servir o café lembro do sonho, do garoto, da mãe, da minha covardia e, principalmente, do Redentor que está tão perto e não os viu.

 

 


Maicon

Estudante do terceiro semestre de Eletrônica Integrado ao Ensino Médio, indeciso, viciado em açaí com guaraná e Paulo Coelho. Filosofa com frequência frases disconexas.

Perfil por Rafaela - http://sushiteria.wordpress.com

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